de José Teresa Marques.
Penso que foi na década de 1970 que algumas das descobertas mais relevantes me aconteceram.
Cinema:
Teria entre 17 e 20 anos quando vi o filme “Blow-up” de Michelangelo Antonioni. A história de um fotógrafo que faz uma fotografia idílica a um desconhecido casal apaixonado, num parque. Sucessivos zooms na revelação da fotografia vão-lhe mostrar coisas não visíveis na primeira observação: o casal não é feliz, há outro homem, escondido, há uma arma, mais tarde um crime.
Também em “Janela Indiscreta” do mestre Hitchcock, e em “Blow out” de Brian de Palma, se assiste ao jogo fascinante entre o olhar ao longe e, simultaneamente, a observação de perto. As várias camadas. O zoom out e o zoom in.
Para mim, o fascínio pelo cinema começou algures por aqui.
Teatro:
Por esses anos terei visto na SNBA uma peça de teatro do TEC, “O Vento nas Ramas do Sassafraz”, com um dispositivo cénico singular: na ampla sala, a representação começava ao longe, numa casa caravana. Depois, lentamente, essa casa, assente sobre carris, e empurrada por actores, ia-se aproximando até ficar junto de nós, espectadores, como se no teatro também fosse possível fazer um grande Zoom in, como no cinema.
A par do dispositivo cénico de “Casimiro e Carolina” da Cornucópia, em que a acção começava perto dos espectadores e se desenvolvia em vários planos de distância, até ao fundo, quase a perder-se de vista, o imaginário conceptual que aquela peça me transmitiu, contribuiu fortemente para o meu fascínio incondicional pelo teatro, e terá sido um dos primeiros sinais de que a minha vida se iria cruzar directamente com o teatro e com a criação de cenários, mais tarde ou mais cedo.
Literatura:
“O assassinato de Roger Ackroyd”, de Agatha Christie foi um dos livros que mais me marcou, pela sua estrutura. Na minha ingenuidade dos 18 anos, (que pensava que um livro era só um meio para transmitir uma história) eu não acreditava que a um escritor fosse dado o direito (e a habilidade) de manipular a percepção do leitor, a ponto de o fazer olhar para longe, quando a verdade estava tão perto, a arder-lhe nas mãos. Na literatura, este foi um dos livros que me despertou para a importância da estrutura num romance.
Desde sempre o longe e o perto. No cinema, como no teatro e na literatura.
ZOOM OUT e ZOOM IN
As fotografias seleccionadas para estas 7 mini-séries de ZOOM OUT e ZOOM IN situam-se entre dois extremos, tão antagónicos como complementares: o pudor, longínquo e contemplativo, do Zoom out, que só permite observar ao longe (ou em silhueta, ou em sombra projectada), e o descaramento, atrevido e voyeur, do Zoom in, que invade a intimidade dos indivíduos, os olha nos olhos e lhes revela as emoções.
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Nas fotos destas séries, a câmara observa o indivíduo que observa, o indivíduo que contempla. Mas também o que passa, o que está, o que se afasta e o que perde o olhar na imensidão do fim dos mares ou nos precipícios para lá de todos os cais.
Nalguns casos a câmara respeita a distância, e o indivíduo é uma pequena partícula imersa e camuflada na paisagem.
Na meia distância, o pudor ainda convoca o desfoque ou a silhueta, porque os corpos e rostos fotografados continuam a ser estranhos, desconhecidos, de passagem.
Já quando muito próximos, a câmara torna-se implacável, indiscreta, despudorada, e voyeuse dos rostos e dos sentimentos.
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Desde sempre o longe e o perto. No cinema, como no teatro e na literatura.
José Teresa Marques, 2017